Somos África e somos Portugal! Não somos nenhum incómodo!

Olá minhas rainhas. Já passou algum tempo, eu sei. Infelizmente foi inevitável.

Mas estou aqui agora! 🙂

Um dia destes, enquanto estava no metro, a caminho do Colombo, ouvi um grupo de jovens africanos, mais propriamente de Cabo- Verde,  a comentarem que não se sentiam parte de Portugal, mesmo tendo nascido cá. Diziam-no após uma troca de palavras com um senhor Português, que lhes disse, aquela famosa frase que muitos já ouviram. ” Vai para a tua terra” . A sério??! Como podem ainda certos Portugueses, acharem que somos um incómodo para a sociedade?

 

 

 

 

Eu só incomodo os fracos....

 

Com tanta história em comum, como podem pensar que não pertencemos?! Para mal ou bem, ambos influenciaram ambas as nações.

África e Portugal partilham um historial, com mais de 500 anos.  Com aspectos bons, maus e muitos deles esquecidos, intencionalmente ou não. As antigas colónias, permanecem literalmente no sangue Português.  Existe sangue africano na linhagem de grandes nomes Portugueses.  Só que poucos gostam do o mencionar como se fosse algo vergonhoso e pouco digno (Isto fica para outro Post) 

Aqui fica um pouco de historia para ti.  A maior afluência de emigrantes africanos, foi na década dos anos 70. São ainda hoje pouco reconhecidos e convenientemente pouco mencionados que foram os africanos, a grande mão de obra responsável  por muita coisa construída por este Portugal fora.  Para os milhares de africanos e descendentes de africanos (como eu) era suposto que esta “história em comum” nos proporcionasse uma melhor aceitação e melhor acolhimento na sociedade portuguesa.

Talvez seja por isso, entre muitas outras coisas, que os jovens africanos se sentem deslocados e não se identificam com os Portugueses, apesar da maioria (tal como eu) ter nascido em Portugal ou viver em Portugal há muitos anos.  São poucos os africanos que se revêm na sociedade Portuguesa.

A imagem que o  português tem em geral  do africano aqui em Portugal, continua a ser infelizmente associada a marginalidade, pouco ou nada civilizados e com pouco sucesso escolar. São maioria das vezes, ridicularizados e tratados  na maior parte das vezes, com muita indiferença entre os demais.  Profissionalmente são sempre reduzidos à construção civil, a profissões pouco qualificadas e em maioria das vezes, a trabalhos de e em grande precariedade, sem  esquecer a mão de obra barata.

Apesar de uma longa história em comum, continuam a ser raros os africanos que se destacam  e ascendem a posições com alguma relevância.

Sim, há muitos bairros problemáticos, mas os bairros estão como estão porque no passado se mostraram sempre indiferentes perante o crescimento acelerado de barracas de imigrantes. Fosse qual fosse a nacionalidade. Agora são um incómodo.

A resolução deste problema, foi continuamente adiada e com isso foi crescendo de tal forma que tornou-se incontrolável, e agora “são um incómodo”. Grande parte da culpa advém dos que nos ignoraram no princípio da década de 70. As políticas de realojamento foram e continuam a revelar-se um completo desastre descabido. Infelizmente não somos a única comunidade nesta situação aqui em Portugal. Situação que ainda hoje se mantém.

Por estas e muitas outras razões, não te sintas um incómodo, pois não deves nada a ninguém.

África faz parte de Portugal quer queiram quer não.

O que os outros pensam não é problema teu! Tu deves a ti e aos teus antepassados, libertar-te dessas correntes invisíveis colocadas pela sociedade e consequentemente por ti próprio.

 

 

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Eu, sou sangue de escravos e sangue Português.

Eu sou África e sou Portugal.

Eu não sou nenhum incómodo!

 

Beijinhos 🙂

 

Sou mais além da minha cor

Olá Rainhas !

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Gosto de pensar que para o mundo, a definição de mulher Africana, seja mais do que a sua cor. Da minha herança africana, recebi os meus cabelos, as linhas do meu corpo, os meus lábios carnudos, a cor dos meus olhos e a tonalidade da minha pele.

Aprendi valores com gerações antigas e a ser humilde e partilhar. Da minha herança africana aprendi a dar voz à minha luta e dar vida ás línguas antigas. Da minha herança africana, aprendi a ser forte, independente e destemida.

A cor da minha pele é mais do o que um reflexo meu no espelho.  A minha pele é a metáfora que define como sou vista e como me vejo a mim própria.

Vivo numa sociedade que ainda me reduz a um ideal da mulher negra, socialmente aceite, em que o negro é bonito, mas mais claro é mais bonito e mais “gostável”.

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As pedras mais bonitas são as de cores escuras. Onix, Opal e Obsidiana. A sua beleza é incomparável.

Eu, sou mais do que os estereótipos criados por aqueles que não compreendem a minha cultura ou não fazem parte dela e que com isso falham em me compreender.

Escreve-se mais sobre África e africanos que qualquer outra etnia no mundo. No entanto somos os menos compreendidos. Os Europeus não somente colonizaram África e maior parte do mundo, como  também colonizaram a informação sobre os africanos.

A cor da minha pele tem história, mas cada tonalidade tem a sua. 

A cor da minha pele pode ser a minha vulnerabilidade mas também é a minha defesa e a minha celebração.

Eu sou muito mais, para além da minha cor.

Nós somos mais, para além da nossa cor.

Beijos rainhas!

Líder da libertação.

Amílcar Cabral foi o líder da libertação de Cabo Verde e Guiné Bissau, assassinado a 20 de Janeiro de 1973 antes de ver a independência das (ex) colónias africanas de Portugal. Agrónomo, revolucionário anti-fascista, guerrilheiro e panafricanista, Amílcar Cabral marcou a História pelo seu papel central na luta pela auto-determinação dos povos de Cabo Verde […]

via Amílcar hoje — Escreve Eliana, Escreve

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