Cara revista Máxima,
Sou uma fã incondicional, como tantas outras, da vossa revista…
Por essa razão escrevo-vos esta carta aberta pois estou muito indignada e tenho a certeza que não sou a única.
No manifesto escrito por Manuel Dias Coelho, na edição de Setembro de 2017, ele escreveu que nós (as leitoras) “somos uma participação no pulsar desta revista”. Se assim o somos então algumas fiéis leitoras estão certamente excluídas.
No seu regresso a casa viu certamente mudanças na cultura Portuguesa. Mudanças estas que têm crescido juntamente com o desenvolvimento da vossa revista.
Essas mudanças devem-se a diversidade cultural em Portugal, nomeadamente à cultura Africana em Portugal, principalmente em Lisboa.
Também nesse manifesto dizia-se “A Máxima conseguiu feitos memoráveis no panorama das revistas femininas nacionais…” Sim foi a primeira revista a publicar na capa uma modelo não caucasiana, no entanto falta (deliberadamente ou não) a vertente da multiculturalidade na revista. Nomeadamente, a Africana.
A minha pergunta é: como é possível ainda não haver uma revista ou um suplemento semanal, dedicado à mulher negra de Portugal?
Não há uma única revista portuguesa para adolescentes e mulheres africanas. Também elas são portuguesas, também elas compram revistas.
No manifesto também se fala da dificuldade que se tinha no passado em obter uma revista estrangeira e o quanto era caro. Pois ainda são! Eu como tantas outras, somos obrigadas a comprar revistas estrangeiras. Faltam referências em Portugal, direccionadas para mulher negra, nomeadamente no que toca às ultimas novidades de produtos para o corpo e rosto (necessidades diferentes), de maquilhagem, de perfumes (os perfumes na pele negra cheiram diferentes), de cabelo (temos vários tipos) e de tendências (os gostos são diferentes). Somos obrigadas a comprar revistas estrangeiras mas o que queríamos era comprar revistas Portuguesas. Sei que a pesquisa requer tempo e dedicação. Mas não merecemos tal dedicação e empenho?
Uma revista como a Máxima que tem uma posição marcada à frente da concorrência, que se diz visionária e que “conseguiu feitos memoráveis no panorama das revistas femininas nacionais” deveria explorar e abordar mais esta cultura da qual partilhamos mais de 500 anos de história comum.
Tal como muitas leitoras africanas, gastamos o nosso dinheiro (algumas apenas quando podem) nas vossas revistas semanalmente/mensalmente, apenas para auferir de uma pequena parte da informação que tenha alguma relevância para nós. Na minha opinião o vosso departamento criativo e de pesquisa estão a falhar redondamente.
Não era tempo de investir em nós? Procurar escutar as necessidades da mulher negra, pesquisar, experimentar, comparar,escrever sobre o resultado, aconselhar, e publicar.
Público não vai faltar de certeza.
Em nome das Rainhas Africanas de Portugal.
Com os melhores cumprimentos
Marlene Castela