Olá minhas rainhas
Com atitudes justificadas com o ” 500 anos calados” vejo jovens revoltados com o mundo de comportamentos pouco graciosos e pouco dignos dos nossos antepassados, dos que viveram em primeira mão os sofrimentos, os castigos, os maus tratos, os que lutaram da melhor maneira que sabiam para que as futuras gerações (nós) pudessem gozar da liberdade, da expressão, de um mundo sem opressão.
Não basta só dizer que és de Cabo Verde ou descendente de cabo-verdianos e falar crioulo quando te convém…. o que é Cabo Verde para ti? Reconhecerias o hino se o ouvisses? O que é ser africana e descendente de africanos para ti? O que é ser africana e luso africana em Portugal? Porque razão achas que não pertences aqui?
Os cabo-verdianos são descendentes de antigos africanos (livres e escravos) e de europeus de várias origens, na sua maioria portugueses mas também italianos, franceses e espanhóis entre outros povos europeus. Há também cabo-verdianos que têm antepassados judaicos vindos do Norte África principalmente nas ilhas de Boavista, Santiago e Santo Antão. Grande parte dos cabo-verdianos emigrou para o estrangeiro, principalmente para os Estados Unidos, Portugal e França, de modo que há mais cabo-verdianos a residir no estrangeiro que no próprio país.
Sabias que 57% dos genes dos cabo-verdianos são de origem africana e 43% têm origem europeia, o que faz do arquipélago uma das populações que representam mais mistura na Terra. Especial não é? 🙂
Respondi a uma pergunta que me foi feita à pouco tempo: ” Tu és mestiça?”. Sim, sou. Respondi que mestiça são pessoas que descendem de duas ou mais raças diferentes, possuindo características de cada uma das raças de que descendem.
Eu sou uma mulher negra de descendência africana com orgulho. Eu sei, conheço e respeito as minhas raízes. Sou filha de emigrantes cabo-verdianos, de gente trabalhadora e muito lutadora. Na minha família sou a primeira geração de cabo-verdianos a nascer em Portugal, o que faz de mim luso africana como tantas gerações neste país. Infelizmente vai sempre haver algum estigma em relação à nossa cor. Para mim são pessoas de mente pequena que têm medo daquilo que não conhecem e, por isso, cabe a nós tentar mudar essa imagem negativa que muitos tem de nós.
Para mim Cabo verde ainda é um país estranho porque nunca fui (com muita pena minha, mas cuja viagem está planeada) e nem por isso faz de mim menos africana. A minha mãe admira a minha paixão por um país que nem conheço. Apenas posso escrever com convicção sobre as minhas raízes porque me foram ensinadas com paixão e muito orgulho e não esqueço que continuo a aprender sobre o país das minhas origens.
Em todos os seus aspectos, a cultura de Cabo Verde caracteriza-se por uma mistura de elementos europeus e africanos. Adoro o nosso artesanato que tem grande importância na cultura cabo-verdiana e que foi, e ainda é, o único meio de subsistência para algumas famílias incluindo a minha. Na cozinha da minha mãe aprendi a fazer a cachupa e a sua história. Aprendi desde jovem a literatura cabo-verdiana que é uma das mais ricas da África lusófona.
Foi a ler pequenos poemas e contos do Sérgio Frusoni que aprendi a escrever crioulo (Criol d’ Soncente), Eugénio Tavares na sua maneira única de escrever sobre as alegrias e tragédias de Cabo verde, Baltasar Lopes da Silva com uma das suas obras o Dialecto Crioulo de Cabo Verde que para mim foi uma das obras de melhores referências para a língua crioula. Na música há géneros musicais próprios, morna, funána, coladeira e batuque. Foi com o sucesso internacional de Cesária Évora ( Rainha dos pés descalços) que Cabo Verde ficou mais conhecido mas sem tirar o merecido mérito da voz inconfundível do Bana que foi guarda-costas do B.Leza, o grande senhor das mornas.
Poderia ficar aqui horas a escrever sobre as maravilhas de Cabo Verde e de Portugal, mas fica para outro post. 😉 Fala-me das tuas raízes, do que tens orgulho.
Fui escrava e fui colono.
Eu sou África e sou Portugal.
Beijinhos Rainhas
Adorei o post e deves mesmo ter orgulho nas tuas raízes ❤
Beijinhos 🙂
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Muito obrigada😊 Sim tenho muito orgulho. São raízes com muita história.☺
Beijinhos
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A família da minha mãe e de cabo verde e a do meu pai portuguesa. Nasci e sempre vivi (só há 4 anos e que me mudei) em Portugal. Identifico me como portuguesa mas, lógicamente, não nego a ascendência cabo-verdiana. É uma riqueza que devemos apreciar quando somos fruto de duas culturas e sobram motivos de orgulho. Confesso que não conheço a literatura de cabo verde mas vou passar a conhecer 🙂
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O bonito é isso, é saber nos identificar com as duas culturas. Beijo
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